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A Virilidade do Não-Pertencer.


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Bem-vindo a Querido Diário, cale a porra da boca </3.

Um dia, um amigo meu me disse: “Não dá pra esperar tudo de quem não te prometeu nada.”


Mas, no silêncio da noite, quem nos calará? Quem ousará dizer que as profecias de Deus são apenas palavras agridoces, caindo sobre nossas línguas quando nossos lábios se entrelaçam em um só?


Somos uma frágil corda-bamba, eu sei, mas, de algum modo inexplicável, nossos destinos estão entrelaçados.


Porque, com cada movimento das tuas papilas sobre as minhas, há um gosto crescente de liberdade. Uma soberania vil, perversa; uma montanha-russa amarga de doces arrepios, subindo e descendo pela minha espinha, acelerando com cada curva.


É cômico estar tão perto dos céus, tão longe da terra, tão colada ao teu peito. Porque não sou braquistócrata contra teu corpo. Sou cinética, descontrolada, desenfreada, flutuando como um pássaro sem asas em direção ao teu âmago.


Mas a algidez nas minhas entranhas não provém das borboletas. Borboletas não são feitas de gelo, afinal. Acho que a resposta é: nunca foram. E, por isso, a sensação gélida parece emergir da própria obstrução da identidade, a calefação inútil e escassa que provém do coração.


Dizem que a vingança é um prato que se come frio, mas a desilusão? Ela é ainda mais glacial, solidificando os ossos, a alma e as vísceras no caminho até o estômago.


A solidão é a amálgama que nos une, mas apenas para nos separar ainda mais. Somos como água e óleo. Tu és boro, eu sou silício. Tu és telúrio, eu sou arsênio. Não há paz no fim de um começo, nem no final de um prelúdio. Porque, lá nas profundezas do meu peito, sei que cavo minha própria cova.


Tu prometeste. Talvez não com palavras, nem com votos ou pactos, mas em cada toque, em cada movimento suave e deliberado que parecia expor a tua alma desnuda. Um espírito que permanecia plácito e presente em toda a sua força, enquanto os teus olhos faziam jura contra os meus, colados ao meu quadril como super-bonder.


Minha cintura jurou te proteger, jurou te abrigar, e lá tu permaneceste — por uma noite e mil e um séculos. Mas quando teus lábios se abriram milimetricamente para proferir égides, tuas palavras me enveloparam como um espartilho apertado, me sufocando de fora para dentro.


Tu não prometeste. Não ousou prometer. Mas eu esperei. Esperei por tudo, por uma eternidade. E continuarei esperando, calada, amarrada, presa a uma frígida cadeira de metal.


Isto é, até que a Morte venha me embalar em seus braços e cumpra a única real promessa que alguém já me fez. A única promessa que sei que, um dia — mais cedo ou mais tarde — será cumprida, inexoravelmente.


Porque estou cansada de esperar, mas esperarei até o último dos dias e até o início do novo fim. Esperarei pela minha redenção e pelo calor do enlace de seja lá quem estiver me aguardando do outro lado.


 
 
 

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©2024 por Nina Inski.

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